sábado, 26 de abril de 2014

Uma Noite Alucinante, evento trancará escritores em livraria


Muitas pessoas desconhecem a origem de um dos monstros mais instigantes da literatura. Ele teria surgido de uma brincadeira entre amigos escritores confinados em uma mansão devido ao mal tempo. Passavam o tempo ledo histórias de terror até que o escritor Lord Byron propôs que cada um dos quatro presentes escrevessem uma história de fantasmas. E foi assim que Mary Shelley, na época com 19 anos, concebeu Frankenstein ou o Moderno Prometeu, ou, como costumamos chamar, simplesmente Frankenstein.

Essa brincadeira, que ocorreu em 1916 e que também deu origem a lenda do vampiro como conhecemos hoje, anda inspirando algumas pessoas hoje. 

Ano passado na  Feira do Livro de Porto Alegre rolou o evento “Tu, Frankenstein 2”, organizada por um dos curadores da Feira, o Duda Falcão, autor de literatura fantástica. Na ocasião, eles levaram diversos autores para a Biblioteca Pública de Porto Alegre. Os contos originados naquela noite vão sair em uma publicação neste ano.

Recentemente, um grupo de autores de Portugal se reuniu no evento intitulado “A Noite de Lord Byron”. Este evento funcionou como um concurso. Quem queria participar era “encarcerado” em uma noite e os contos produzidos eram selecionados para uma posterior publicação.

A partir destas experiências surge agora um novo evento do gênero: “Uma Noite Alucinante”. Esse novo evento tem características bastante semelhantes: uma reunião de autores de fantasia, confinados em uma noite, produzindo contos de suspense e terror. 


O evento vai ocorrer durante a Feira do Livro de Santa Maria, com a participação de nove autores gaúchos. Eles ficarão trancafiados e cercados por câmeras na Livraria Athena. Os trabalhos produzidos durante a madrugada serão reunidos em uma antologia a ser publicada na Feira do Livro de Santa Maria de 2014 pela Editora Argonautas, de Porto Alegre. 

O evento é parte do Circuito Elétrico, um projeto paralelo à Feira do Livro de Santa Maria que ocorre desde 2008, trazendo novidades na literatura além de trabalhar com o circuito alternativo. 

Farão parte do projeto como autores A.Z.Cordenonsi (Duncan Garibaldi e a Ordem dos Bandeirantes), que também é o idealizador e organizador do evento, Chistopher Kastensmidt (A Bandeira do Elefante e da Arara), Duda Falcão (Mausoléu). Enéias Tavares (As Idades do Homem), Estevan Lutz (O Voo de Icarus – Até Onde Nossa Mente pode nos Levar), Fábio Brust (Agora eu Morro), Leonardo Carrion (conselho editorial da revista Black Rocket, vencedor do concurso FC-do-B, 1a. edição, com o conto A idade do lobo), Nikelen Witter (Territórios Invisíveis um dos finalistas do Prêmio Argos 2013), Suzy Hekemiah (Código dos Mares – Os Contos do Tempo). 

Confere ai a programação:

03/05 - Na Livraria Athena 
16:00 – Debate com os autores: a produção fantástica e a influência de Mary 
Shelley 
18:00 – Sessão de autógrafos coletiva 
20:00 – Encarceramento dos autores 
durante a madrugada – Produção dos contos 

04/05 – No Shopping Monet 
10:00 – Mesa redonda sobre a experiência e leitura de um dos contos produzidos 


segunda-feira, 14 de abril de 2014

Santuário, de Andrio Mandrake


Em 2012 uma grande estiagem que ocorreu no Rio Grande do Sul acabou revelando as ruínas de uma vila alagada por uma represa há 40 anos. A partir desse evento atípico Andrio Mandrake desenvolve sua narrativa que envolve mistério e sobrenatural. 

Logo de cara, uma das coisas que me chamou atenção nesse livro foi o uso de um acontecimento real, num lugar que existe, para criar uma narrativa fantástica. Nada de outros mundos ou universos paralelos. Ou seja, nada de ter que aprender tudo sobre um novo mundo mais uma vez. Um alivio, sento sincero.

O livro divide-se em dois domos, cada um iniciado com uma ilustração muito bela. Aliás no livro todo nota-se um cuidado com a parte gráfica. Desde a capa até detalhes no inicio de cada capítulo, o que se torna uma atração a mais para o livro.

Andrio conseguiu construir bem alguns personagens, com diálogos internos bem realistas que acaba por criar empatia. Entretanto é na hora da interação entre esses personagens que ele peca. Principalmente com os diálogos. As coisas, nesses momentos, acabavam acontecendo em uma velocidade exagerada, e nem sempre natural.

A história foca em alguns poucos personagens. Mas é Ian, um historiador, o ponto central da trama e a partir do qual todos os outros orbitam. É assim o personagem trabalhando com mais profundidade e que tem um complicado dilema interno. Ele vai visitar as ruínas da vila principalmente para fugir de problemas familiares e no trabalho, tentando espairecer. Mas para seu azar acaba encontrando muito mais do que isso.

Outra personagem importante, Laura foi quem mais me intrigou. Completamente impulsiva, e extremamente rápida na hora de abandonar o luto pela morte do amigo.

Algo que pode atrapalhar a fluidez da leitura de alguns, como atrapalhou a minha, é a linguagem arcaica que permeia o livro. Esse tipo de linguagem era mais presente na fala da jovem sacerdotisa. Era um traço da sua linguagem e se fosse só isso não me incomodaria. Mas, talvez com a intenção de dar mais elegância ao texto, as linguagem rebuscada em alguns trechos acabava me despertando do “transe” que a leitura proporciona quando é fluida.

Fazendo um balanço geral sobre o livro, acho que ele merecia um novo tratamento para concertar as falhas. A premissa é boa, me deixou interessado, os personagens foram bem escolhidos e o mistério é bom. Mas a execução deixou a desejar em alguns pontos. Apesar de todas as coisas que me incomodaram, a minha impressão sobre o livro teria sido muito melhor se não fosse pelo final. Acho que merecia uma melhor explicação obre os fatos que ocorreram e um proposito mais claro.

Algo que conta a favor do livro é que ele ao menos não caiu na armadinha da continuação. É um livro fechado (embora nada tire a possibilidade do autor escrever mais sobre os personagens). Ponto pro Andrio.

Você pode adquirir o livro na página do livro Santuário no blog do autor.

terça-feira, 1 de abril de 2014

A Aliança dos Castelos Ocultos: Série Controlados vol. I, de Peterson Silva


Originalidade é uma das coisas mais difíceis de se encontrar na literatura atualmente, e a fantasia, onde a inventividade não tem limites, também carece de coisas originais. Nessa sua estreia na literatura, Peterson Silva consegue se utilizar de figuras comuns das obras de fantasia e criar algo novo, diferente e bastante inteligente. Na série Controlados, você verá magos como nunca se viu igual. 

Nada de feitiços escabrosos, invocações fantásticas, e aquele show pirotécnico de bruxos com varinhas mágicas. Em Heelum, o universo fantástico criado pelo autor, magos são pessoas que se utilizam da capacidade de invadir a mente de outros e assim manipula-las ou até mesmo controla-las completamente. Existe uma espécie de universo paralelo chamado Neborum, onde só os magos conseguem entrar, e nesse local as pessoas possuem o seu eu interno, sua alma ou iaumo na manifestação física de um castelo. Para atingir seus objetivos, através de inúmeras técnicas utilizadas pelas diferentes ordens de magos de Heelum, eles invadem os castelos de seus alvos para assim controlar seus donos ou influencia-los plantando informações em seu interior. Por essa capacidade os magos são temidos e ao mesmo tempo venerados tornando-se importantes políticos e grandes senhores de Heelum. A história trata de um brutal jogo político envolvendo esses poderosos seres e o destino de Heelum está no desfecho desse perigoso jogo. 

Apesar de ser uma obra original, com uma escrita madura, que mostra o potencial do autor, A Aliança dos Castelos Ocultos não é uma obra grandiosa. Uma fato que sempre me incomodou com autores estreantes é a pretensão de criar logo de cara uma série. Quando vejo na capa “Livro 1” isso já me desanima (ultimamente até mesmo com autores consagrados!). Penso que, mesmo que o autor queira criar uma série, deveria criar uma história fechada no livro de estreia, que contenha os ganchos para as possíveis continuações. Se o livro for bem recebido pelo público é logico que uma continuação é mais que bem-vinda e os leitores clamarão por ela. 

Esse livro de Peterson Silva tem potencial sim pra atingir grandes públicos, mas se melhor lapidado. Como disse é bem escrito e diferente, porém peca em alguns pontos essências como a maioria dos personagens serem rasos e você não conseguir se apegar à maioria deles. Pra mim quando você se identifica com um personagem, se apega, a leitura flui facilmente. Nesse livro Lamar foi um dos personagens mais bem construído do autor justamente por não ser raso. Ele tem seus dramas familiares, seus medos e uma história que o torna mais vívido. 

Outro ponto essencial foi a falta de clareza em alguns aspectos fundamentais da trama, como a diferença entre magos alorfos e filinorfos. Tive que recorrer a outros meios de me informar sobre essa questão pra poder entender a trama política envolvendo os magos. E o último e mais grave erro do autor foi, com disse, não finalizar o livro. Acho que ele poderia ter centrado a história em um ponto especifico e finalizar nesse livro 1,  pois a maioria dos pontos de vista tinham propósitos muito distintos e nenhum deles teve um fim satisfatório. Posso citar como exemplo Harry Potter. Os livros tinham uma trama fechada que se encerrava a cada volume e uma subtrama por trás (pelo menos até o livro 4) que era a luta contra Voldemort. Esses foram os pontos que não me fazem dar nota uma nota melhor pra A Aliança dos castelos Ocultos.

Apesar de tudo, de cara pude ver que Peterson Silva tem talento e sua série tem sim potencial se for melhor trabalhada. A escrita do autor é leve, tanto que consegui ler relativamente rápido. Outra coisa que gostei foi o vilão, Desmond, malvado e sedento por poder, como um bom vilão deve ser. E o Neborum foi uma sacada genial, adorei! A utilização de pontos de vista diferentes também foi bem colocada e sem demasia de personagens, o que é raro em épicos de fantasia. E a descrição dos locais foi precisa e sem exageros narrativos. Por fim, Heelum foi uma boa descoberta nesses novos universos fantásticos criados por autores nacionais.

Você pode ler o livro e saber mais sobre a obra no site da Série Controlados.